sábado, 31 de janeiro de 2015

OXUM



Quem é Oxum?

Oxum é o Orixá da fertilidade. Simboliza o amor, a união e o casamento. Seu elemento é a água doce e está presente nos rios, lagos, fontes, cachoeiras e regatos. O dia da semana consagrado a Ela é o sábado.
Ela protege as mães e as crianças, cuidando de nutrir, zelar e proteger todos que necessitam de seus cuidados. Por associação as fases da lua, é um pouco volúvel em suas vontades, refletindo novas faces a todo o momento. Sua palavra-chave é: fertilidade.Está sempre preocupado com o conforto das pessoas que o cerca, querendo atender suas necessidades. A graça e as boas maneiras e a sensibilidade e a compaixão são seus atributos, já que é muito dedicado ao próximo.Dotado de boa memória, veremos que este atributo será marcante em suas ações, pois os filhos de Oxum não esquecem o passado.Magoar um filho de Oxum é fácil, qualquer grosseria ou gesto mais brusco o deixa muito ofendido. Quando se entristece, derrama toneladas de lágrimas e tristezas em torno de si.Toda a pessoa filha de Oxum é mãe. Tanto homem, quanto mulher vai cuidar de seus filhos como mãe, é comodista e apegado ao que lhe pertence, seja objeto, ou amor.É extremamente teimoso, quando desaprova algo nada o faz mudar de ideia, tornando-se resistente e desconfiado. Não gosta muito de ir ao médico e quando se sente doente deixa a doença tomar conta, até ficar realmente mal, para então pedir socorro. Seu reino é sua casa, lá ele jamais ficará entediado, pois sempre encontrará o que fazer. Sua maior preocupação serão os filhos, que ele insistirá em proteger excessivamente.Não se pode entender um filho de Oxum por meio de um modelo básico, porque seu Orixá dá a ele muitos temperamentos, alguns dos quais conflitantes e opostos.O mau humor e as lágrimas são os comportamentos de um filho de Oxum que está infeliz no amor ou magoado. Seu companheiro precisa evitar criticá-lo ou censurá-lo, devendo sim estimulá-lo com elogios.Vive para o seu trabalho e sua casa e é cauteloso e tímido ao escolher seu par. Tem um mau humor extremo, que se transforma em rabugice intolerável, fica remoendo e resmungando pelos cantos de forma lamuriosa, neste momento é aconselhável deixa-lo a sós. Seu aspecto negativo é o excesso de cautela, preguiça, egoísmo e muita pena de si mesmo. Sentimentos de posse geram ciúme exagerado e a sovinice.Embora dificilmente parta dela a iniciativa para iniciar um relacionamento, depois que se envolve é excitante e participativa, romântica e delicada.Como atrai todo o tipo de pessoa, ela tem que se habituar a selecionar quem merece atenção. Sua energia pode ser afetada por aqueles que vêm apenas para sentir sua proteção maternal. Seu equilíbrio emocional pode ser desfeito e ela vir a esquecer sua vida pessoal para se dedicar a problemas alheios.No sincretismo é associada a Nossa Senhora da Conceição, cuja festa é comemorada no dia 8 de dezembro. Em outros estados brasileiros tem ligação com N.Sa das Candeias, N.Sa Aparecida, N.Sa da Glória ou N.Sa das Graças.No Tarô pode ser comparada ao Arcano XVIII: a lua, pois é encantadora e sedutora. É a profundidade da alma, emergindo das águas do inconsciente para a luz da compreensão íntima. Associar Oxum a lua é fácil, tanto o Orixá, quanto o astro representam tradicionalmente a mulher em todas as suas funções: mãe, esposa, amante e sacerdotisa. Ambas se ocultam por vezes e estão ligadas aos órgãos reprodutores.Os trabalhos domésticos, a culinária, a agricultura, os partos, a amamentação, a fecundidade da natureza e a geração estão sob domínio de Oxum.

O Físico e o Temperamento

O filho de Oxum tem rosto redondo, mãos cheias e é ou foi, em alguns casos, gordinho em um dado momento de sua vida.
O filho deste Orixá, seja homem ou mulher, trata a todos com dedicação maternal, se interessando por tudo o que acontece e sofrendo quando vê um pobre, um doente ou uma criança desamparada em má situação. Sua compaixão será seguida de cuidados, pois Oxum auxilia a quem precisa. Além de agradar aos outros, o filho deste Orixá também agrada a si mesmo. É vaidoso e despende tempo fazendo comidas de que gosta, mudando os cabelos, comprando roupas joias ou bijuterias.
A sua casa é seu lugar preferido, defenderá o lar com tenacidade, não deixando que nada perturbe a tranquilidade e o equilíbrio.
Extremamente cauteloso, parece perder oportunidades de agir, mas na verdade sua cautela não tem origem no medo, mas sim numa intuição profunda do que vai dar certo ou não. Convém a ele separar sua natureza negativa de sua intuição negativa, a intuição deve ser seguida, pois ela vem de seu Orixá regente, já o espirito negativo deve ser combatido, pois poderá ser um entrave ao seu progresso.
Sua capacidade mediúnica é manifestada por clarividência, premonição e psiquismo profundo. Os menos evoluídos podem ser vítimas de perseguições de espíritos atrasados.
Na personalidade humana, Oxum representa o “anima”, que a psicologia considera a faceta feminina, sendo sensível, intuitiva e vulnerável.

Amor e Casamento

O filho de Oxum é sentimental, romântico e necessita receber retribuição tão ardente, quanto a que dá. Gosta de se sentir admirado e desejado. Apaixonado, fica momentaneamente cego e neste período não percebe se a pessoa lhes convém ou não. Por isso, não deve ser precipitado ao escolher um companheiro, já que o casamento para o filho de Oxum é muito importante, devendo dar tempo para conhecê-lo melhor.
Tem tendência a reviver momentos passados e usa a sua boa memória para os bons e os maus momentos, inclusive revivendo brigas passadas e problemas não resolvidos.
Quando é solteiro, o homem de Oxum vacila quanto ao casamento por medo de se decepcionar. Já a mulher, estará sempre a procura de um amor e quando encontrá-lo nada a fará separar-se dele.

Trabalho e Dinheiro

As profissões mais adequadas aos filhos de Oxum são as ligadas à estética corporal, a alimentação, a psicologia, mas o verdadeiro progresso virá para esse filho quando ele vencer seu pessimismo e a vontade de abandonar tudo quando as coisas ficam difíceis.
Sociedades comerciais não o favorecem, pois podem sofrer prejuízos por sócios inescrupulosos ou exigentes demais.
Negócios em que tem afluência de público são bons para eles, bem como áreas ligadas às artes e à literatura.
É conservador e bastante equilibrado para lidar com dinheiro, mas tem um lado generoso de forma que é capaz de ajudar quem estiver realmente necessitado. Quando empresário, estimula seus empregados a produzirem para ganharem mais e é formal e compreensivo ao tratar com seus subordinados. Quando empregado, é competente e dedicado e tem a capacidade de se tornar indispensável, chamando cada vez mais para si responsabilidades sobre novas tarefas, visando um ganho maior e promoções.

Saúde

Todas as inseguranças que atormentam o filho de Oxum, seus medos e rejeições, produtos de sua instabilidade emocional, se refletem na sua condição física.
O aborrecimento e a angústia causados pelo temor de perder sua segurança o levam a depressão e provocam as doenças. Acidentes também acontecem quando fica desligado e imerso em suas meditações.
Seu melhor remédio está em manter uma vida animada e solta, encarar com otimismo suas apreensões e rir sempre. Ao meditar, ele consegue se recuperar, pois é capaz de controlar suas funções com a mente voltada positivamente para seu corpo.

O homem de Oxum

Há bem menos filhos de Oxum do que filhas, mas Seu filho é vaidoso, escolhe suas roupas com cuidado, combinando bem as cores, e dá muito valor a essa vaidade. É também calmo, sensível, firme, tenaz, doméstico, muito fiel e preza a estabilidade familiar.

A mulher de Oxum

A filha de Oxum recebe de seu Orixá regente dons preciosos que a tornam mãe, esposa e amante adoradas. Envolvente, delicada e feminina, quase tímida ao se apaixonar, gosta de ser elogiada e de ouvir declarações de amor de seu par, pois é insegura. Suas preocupações a afetam bastante, tem medos que a deprimem.
Considera-se bonita, mas não o bastante, tem medo de ficar pobre e sempre acha que não é amada o suficiente.
Não recebe bem críticas, já que elas aumentam sua depressão e reforçam seus complexos de inferioridades. É preciso tato ao criticá-la, pois se magoa com facilidade. Essa filha não pode ser ridicularizada.
Os aspectos negativos da filha de Oxum são a autopiedade e orgulho que, quando ferido, pode desequilibrar sua vida. Tem também mania de se comparar com outras pessoas conhecidas, ou parentes.
Seu mau humor a prejudica e nessa hora ou na hora da mágoa se isola, deprime-se, reclama da vida, chora bastante, mas de repente enxuga as lágrimas e começa a arrumar a casa, esquecendo seus desgostos. Busca no casamento proteção e amor

Yemonjá Ogunté



Yemanjá Oguntê
Origem: E o orixá do rio Ogum, que corre por Oyó e Abeokuta, vem do território de Nupe, perto de Bida; também se diz que vem de Tapa, e associada com Abeokuta; Ibadán e de Shaki. E outros ainda dizem ser da terra de Mina (versão de Cuba).
Ogunté quer dizer aquela que contém Ogum é aquela que luta ao lado dele.
Características: Mãe da vida, e considerada como mãe de todos os orixás.
É dona das águas e representa o mar, fonte fundamental da vida. Vive perto das praias, no encontro das águas com as pedras sendo seu habitat as pedras ou arrecifes dos mares e rios, próximos de praia. Por isso se diz que “o santo nasce do mar”.
É considerada a quarta manifestação dessa divindade.
Apresenta-se jovem e muito guerreira , ardilosa e ambiciosa. É uma guerreira terrível que carrega, preso à cintura, um facão e outras armas de ferro confeccionadas por Ogum Alagbedé, seu marido.
Dizem que é rancorosa, severa e violenta, que não aceita pato em seus sacrifícios e adora carneiro. É indomável, mas justiceira. E de caráter violento, muito severa e não perdoa.
Vive com Ogum em campanhas de guerra e seu filho Ogunjá.
Seu nome completo é “Yemanjá Ogunte Ogunmasomi” e, entre os ararás é conhecida como Akadume. Seu nome não deve ser pronunciado por quem tenha ela assentada, sem antes tocar a terra com os dedos e leva-los aos lábios.
Também chamada de “Yemanjá Okuté ou Okuti” Lá do azul celeste, esta nos arrecifes da costa. “Porteira de Olokun”. O mesmo se acha no mar, no rio, no lago, e no mato.
“Esta Yemanjá trabalha muito”. E uma amazona terrível. O rato pertence a ela. Como envia mensagens a seus homens e pode trasformar-se em rato pra os visitar, ela teme o cachorro.
Vive dentro no mato virgem. É feiticeira, expert em preparar afoxé. (pós-mágicos, que se preparam com seivas de animais, pós-mágicos para o bem e para o mal).
Gosta de bailar com um majá enroscado nos braços.
Ferramentas: Trás na cintura um facão e todas as ferramentas de Ogum. É a única das Yemanjá que carrega uma espada.
Animais: Fala-se também, que Ogunte gosta que seus animais sejam castrados na hora do sacrifício. Come carneiro e todos os bichos machos, castrados na hora do sacrifício. Gosta de comer galo na companhia de Ogum. Não gosta do pato e sim do carneiro. Pomba, Galinha de Angola, Tartaruga, Galinha. Yemanjá Ogunté não come pato. Gosta que seus adimús sejam regados com muito mel. Come padê com Ogum.
Quizila: Sua maior quizila é a pata.
Cores: Veste-se de azul e branco ou azul-marinho com cristal ou verde com branco.
Fundamento: Come com seu filho Ogum Akoro nos campos e caminhos. Geralmente por ser do monte se assenta em pedra de ametista e não em pedra do mar. Em seu Igbá é colocado uma faca virgem, pó de ferro e folhas de louro.
Mitologia: Foi mulher de Babalúayé, de Aggayú, de Orula e de Ogum. É mais cultuada como esposa de Ogum Alagbedè, (deus dos ferreiros) mãe de Akoro.
Sincretismo: Está sincretizada com Nossa Senhora das Neves.
Pedras: São seus os corais e madrepérolas; ametista.
Flores: Flor da água, violeta, rosas brancas.
Perfume: Verbena.
Saudação: Seus filhos apóiam o corpo no chão do meio lado, sobre o braço do lado esquerdo e direito, e saúdam-na assim: Omí o Yemayá, Omí Lateo, Omí Yalodde.
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YEMOJÁ OGUNTÉ
MAGÉ BALÚ DE YEMOJÁ OGUNTÉ
YEMANJÀ OGUNTÉ: é a quarta Yemanjá, Ogunté quer dizer aquela que contém Ogum. Esposa de Ogum Alagbedé, mãe de Ogum Akorô Onigbé, após a retirada de Ogum Alagbedé para a cidade de Ifé Irê tornou-se esposa de Oxaguiã, mãe de Ogunjá e Oxóssi Inle, tem ligação com Ogum, Oxaguiã, e Oxóssi, vive perto das praias no encontro das águas com as pedras, guardiã dos arrecifes, traz na cintura um facão e todas as ferramentas de Ogum, é a guerreira do castelo de Olokun (que é a grande ancestral mãe de todas as Yemanjá), porta a espada da morte o alfanje, por isso também tem o poder de ceifar a vida, só sai á noite, sendo considerada a Yemanjá da Noite, Senhora das Sete Estrelas, é considerada violenta e severa. Senhora das águas que ninguém segura, as águas violentas, que saem arrastando tudo, guerreira como Yansã, Dona do canto mais alto e profundo, diz à lenda que Ogunté chamava Ogum Alagbedé, com um canto agudo, que podia ser ouvido de qualquer parte.
COMIDAS > sua maior quizila é a pata, come carneiro e todos os bichos machos castrados na hora do sacrifício, come com seu filho Ogum nos campos e caminhos, e come as comidas de Yemanjá Yemowô.
VESTIMENTA > veste o azul, cristal, verde e branco, traz um abebê, mas esconde-o nas costas quando puxa a espada de guerra, usa capacete, peitaça, adê, escudo, adornos com seus tons de azul noite, verde e prateado, traz em seu adê as sete estrelas da noite.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Oxalufãn ( ÒSÓLUFÓN )




ÒSÓLUFÓN
O GRANDE PAI DA CRIAÇÃO
Orixá masculino, de origem Yoruba (nagô) bastante cultuado no Brasil, onde costuma ser considerada a divindade mais importante do panteão africano. Na África é cultuado com o nome de Obatalá.
É o princípio gerador em potencial, o responsável pela existência de todos os seres do céu e da terra. É o que permite a concepção no sentido masculino do termo. Sua cor é o branco, porque ela é a soma de todas as cores.
Por causa de Osalá a cor branca esta associada ao candomblé e aos cultos afro-brasileiros em geral, e não importa qual o santo cultuado num terreiro, nem o Orixá de cabeça de cada filho de santo, é comum que se vistam de branco, prestando homenagem ao Pai de todos os Orixás e dos seres humanos.
O seu campo de atuação preferencial é a religiosidade dos seres, aos quais ele envia o tempo todo suas vibrações estimuladoras da fé individual e suas irradiações geradoras de sentimentos de religiosidade.
Fé! Eis o que melhor define o Orixá Osalá.
Orixá associado à criação do mundo e da espécie humana.
Conta à lenda que Olodumaré entregou a Osalá o saco da criação para que ele criasse o mundo. Porém essa missão não lhe dava o direito de deixar de cumprir algumas obrigações para outros Orixás e Esú, aos quais ele deveria fazer alguns sacrifícios e oferendas.
Osalá pôs a caminho apoiado em um grande cajado, o Opasorô. No momento em que deveria ultrapassar a porta do além, encontrou-se com Esú que, descontente porque Osalá se negara a fazer suas oferendas, resolveu vingar-se provocando em Osalá uma sede intensa. Osalá não teve outro recurso senão o de furar a casca de um tronco de um dendezeiro para saciar a sua sede.
Era o vinho de palma o qual Osalá bebeu intensamente, ficou bêbado, não sabia onde estava e caiu adormecido. Apareceu então Olófin Odùduwà que vendo o grande Orixá adormecido roubou-lhe o saco da criação e em seguida foi a procura de Olodumaré, para mostrar o que teria achado e contar em que estado Oxalá se encontrava.
Olodumaré disse então que “se ele esta neste estado vá você a Odùduwà, vá você criar o mundo”. Odùduwà foi então em busca da criação e encontrou um universo de água, e aí deixou cair do saco o que estava dentro, era terra. Formou-se então um montinho que ultrapassou a superfície das águas.
Então ele colocou a galinha cujos pés tinham cinco garras. Ela começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície da água, onde ciscava cobria a água, e a terra foram alargando cada vez mais, o que em Ioruba se diz Ile`nfê expressão que deu origem ao nome da cidade Ilé Ifê.
Odùduwà ali se estabeleceu, seguido pelos outros Orixás e tornou-se assim rei da terra.
Quando Osalá acordou, não encontrou mais o saco da criação. Despeitado, procurou Olodumaré, que por sua vez proibiu, como castigo a Oxalá e toda sua família, de beber vinho de palma e de usar azeite de dendê. Mas como consolo lhe deu a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos nos quais ele, Olodumaré insuflaria a vida.
Características do filho de Oxalufã
O tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito a resfriados. Compensa sua debilidade física com grande força moral, e seu alvo a realizar a condição humana no que tem de mais nobre. É fiel no amor e na amizade. Oxalufã é o poente.
é benevolente e paternal, é sábia, calmo, paciente e tolerante. É lento, frio, fechado. Obstinado, age em silêncio.
As pessoas de Oxalá são calmas, responsáveis, reservadas e de muita confiança. Seus ideais são levados até o fim, mesmo, mesmo que todas as pessoas sejam contrárias a suas opiniões e projetos. Gostam de dominar e liderar as pessoas. São muito dedicados, caprichosos, mantendo tudo sempre bonito, limpo, com beleza e carinho. Respeitam a todos, mas exigem ser respeitados.
São muito teimosos, mandões, e gostam de controlar tudo e todos. São extremamente fechados e muitas vezes ranzinzas.
Assim como Nàná, julgam ter a eternidade pela frente. A calma, paciência, lentidão são suas marcas.
Estabelece, pois, entre si e os outros, uma aura não de temeridade,mas sim de carinho.
Os filhos de Oxalá, portanto, são pessoas tranqüilas, com tendência a calma, até nos momentos mais difíceis; conseguem o respeito mesmo sem que se esforcem objetivamente para obtê-lo.
São amáveis e pensativos, mas nunca de maneira subserviente.
Sabem argumentar bem, são reservados, mas raramente orgulhosos.
Seu defeito mais comum é a teimosia, será difícil convencê-los de que estão errados ou que existem outros caminhos para a resolução de um problema.
No Oxalá mais velho (OXALUFÃ) a tendência se traduz em ranzinzice e intolerância, enquanto no Oxalá novo (OXAGUIÃ) tem um certo furor pelo debate e pela argumentação.
Fisicamente, os filhos de Oxalá tendem a apresentar um porte majestoso ou no mínimo digno, principalmente na maneira de andar enão na constituição física; não é alto e magro como o filho de Ogum, nem tão compacto como os filhos de Xangô.
Às vezes, porém, essa maneira de caminhar e postar-se dá lugar a alguém com tendência aficar curvado como se o peso de toda uma longa vida caísse sobre seus ombros, mesmo se tratando de alguém muito jovem

... o povo busca água para Osalufan
Êpa Babá!
Oxalufã era o rei de Ilu-ayê, a terra dos ancestrais, na longínqua África. Ele estava muito velho, curvado pela idade e andava com dificuldade, apoiado num grande cajado, chamado opaxorô.
Um dia, Oxalufã decidiu viajar em visita a seu velho amigo Xangô, rei de Oyó. Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô, o adivinho, perguntando-lhe se tudo ia correr bem e se a viagem seria feliz. O babalaô respondeu-lhe: "Não faça esta viagem. Ela será cheia de incidentes desagradáveis e acabará mal."
Mas Oxalufã tinha um temperamento obstinado, quando fazia um projeto, nunca renunciava. Disse então ao babalaô: "Decidi fazer esta viagem e eu a farei, aconteça o que acontecer!"
Oxalufã perguntou ainda ao babalaô, se oferendas e sacrifícios melhorariam as coisas. Este respondeu-lhe: "Qualquer que sejam suas oferendas, a viagem será desastrosa." E fez-lhe ainda algumas recomendações: "Se você não quiser perder a vida durante a viagem, deverá aceitar fazer tudo que lhe pedirem. Você não deverá queixar-se das tristes consequências que advirão. Será necessário que você leve três panos brancos. Será necessário que você leve, também, sabão e limo da costa."
Oxalufã partiu, então, lentamente, apoiado no seu opaxorô. Ao cabo de algum tempo, ele encontra Exú Elepô,
Exú "dono do azeite de dendê". Exu estava sentado à beira da estrada, com um grande pote cheio de dendê.
_ Ah! Bom dia Oxalufã, como vai a família?, pergunta Exú.
_ Oh! Bom dia Exu Elepô, como vai também a sua?
_ Ah! Oxalufã, ajude-me a colocar este pote no ombro.
_ Sim Exu, sim, sim, com prazer e logo.
Mas de repente, Exu Elepô virou o pote sobre Oxalufã. Oxalufã ficou coberto de azeite e seu pano inutilizável. Exu, contente do seu golpe, aplaudia e dava gargalhadas. Oxalufã, seguindo os conselhos do babalaô, ficou calmo e nada reclamou. Foi limpar-se no rio mais próximo. Passou o limo da costa sobre o corpo e vestiu-se com um novo pano; aquele que usava ficou perto do rio, como oferenda.
Oxalufã retomou a estrada, andando com lentidão, apoiado no seu opaxorô. Duas vezes mais ele encontrou-se com Exu. Uma vez, com Exu Onidú, Exu "dono do carvão"; Outra vez, com Exu Aladi, "dono do óleo do caroço de dendê". Duas vezes mais, Oxalufã foi vítima das armadilhas de Exu, ambas semelhantes à primeira. Duas vezes mais, Oxalufã sujeitou-se às consequências. Exu divertiu-se às custas dele, sem que conseguisse, contudo, tirar-lhe a calma.
Oxalufã trocou, assim, seus últimos panos, deixando na margem do rio os que usava, como oferenda. E continuou corajosamente seu caminho, apoiado em seu opaxorô, até que passou a fronteira do reino de seu amigo Xangô.
Kawo Kabiyesi, Xangô Alafin Oyó, Alayeluwa! "Saudemos Xangô, Senhor do Palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"
Logo, Oxalufã viu um cavalo perdido que pertencia a Xangô. Ele conhecia o animal, pois havia sido ele que, há tempos, lhe oferecera. Oxalufã tentou amansar o cavalo, mostrando-lhe uma espiga de milho, para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô. Neste instante, chegaram correndo os servidores do palácio. Eles estavam perseguindo o animal e gritaram: "Olhem o ladrão de cavalo! Miserável, imprestável, amigo do bem alheio! Como os tempos mudaram; roubar com esta idade!! Não há mais anciãos respeitáveis! Quem diria? Quem acreditaria?"
Caíram todos sobre Oxalufã, cobrindo-o de pancadas. Eles o agarraram e arrastaram-no até a prisão. Oxalufã, lembrando-se das recomendações do babalaô, permaneceu quieto e nada disse. Ele não podia queixar-se, mas podia vingar-se. Usou então seus poderes, do fundo da prisão. Não choveu mais, a colheita estava comprometida, o gado dizimado; as mulheres estéreis, as pessoas eram vitimadas por doenças terríveis. Durante sete anos, o reino de Xangô foi devastado.
Xangô, por sua vez, consultou um babalaô, para saber a razão de toda esta desgraça. "Kabiyesi Xangô," respondeu-lhe o babalaô, tudo isto é consequência de um ato lastimável. Um velho sofre, injustamente, preso há sete anos. Ele nunca se queixou, mas não pense no entanto... Eis a fonte de todas as desgraças!"
Xangô fez vir diante dele o tal ancião. "Ah! Mas vejam só!" - gritou Xangô. "É você, Oxalufã! Êpa Baba! Exe ê!!
Absurdo! É inacreditável, vergonhoso, imperdoável!!! Ah! Você, Oxalufã, na prisão! Êpa Baba!! Não posso acreditar e, ainda por cima, preso por meus próprios servidores!
Hei! Todos vocês! Meus generais! Meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos! Meus mensageiros e chefes de cavalaria! Meus caçadores! Minhas mulheres, as ayabás!
Hei! Povo de Oyó! Todos e todas, vesti-vos de branco em respeito ao rei que veste branco!
Todos e todas, guardai o silêncio em sinal de arrependimento!
Todos e todas vão buscar água no rio! É preciso lavar Oxalufã!
Êpa Baba! Êpa, Êpa!
É preciso que ele nos perdoe a ofensa que lhe foi feita!!!

... teimosia de Osalufan
Osalá foi consultar os adivinhos para saber como conduzir melhor sua vida. Os velhos aconselharam-no a oferecer aos outros deuses uma cabaça grande cheia de sal e um pedaço de pano, para não passar vergonha na terra. Osalá como era muito teimoso, deu de ombros aos conselhos e foi dormir sem cumprir o recomendado. Durante a noite, Esú entrou em sua casa trazendo uma cabaça cheia da sal, amarrando-a às costas de Osalá, que jazia em profundo sono.

Na manhã seguinte, Osalá despertou corcunda e desde então tornou-se o protetor dos corcundas, albinos, aleijados e lhe foi proibido o consumo de sal.
... Yemonja sua esposa
Yemonja, a filha de Olokum, foi escolhida por Olorum para ser a mãe dos Orixás. Como ela era muito bonita, todos a queriam para esposa; então, o pai foi perguntar a Orunmilá com quem ela deveria casar. Orunmilá mandou que ele entregasse um cajado de madeira a cada pretendente; depois, eles deveriam passar a noite dormindo sobre uma pedra, segurando o cajado para que ninguém pudesse pegá-lo. Na manhã seguinte, o homem cujo cajado estivesse florido seria o escolhido por Orunmilá para marido de Iemanjá. Os candidatos assim fizeram; no dia seguinte, o cajado de Oxalá estava coberto de flores brancas, e assim ele se tornou pai dos Orixás.
... Osalá e Esú
Certa vez, quando os Orixás estavam reunidos, Oxalá deu um tapa em Exu e o jogou no chão todo machucado; mas no mesmo instante Exu se levantou, já curado. Então Oxalá bateu em sua cabeça e Exu ficou anão; mas se sacudiu e voltou ao normal. Depois Oxalá sacudiu a cabeça de Exu e ela ficou enorme; mas Exu esfregou a cabeça com as mãos e ela ficou normal. A luta continuou, até que Exu tirou da própria cabeça uma cabacinha; dela saiu uma fumaça branca que tirou as cores de Oxalá. Oxalá se esfregou, como Exu fizera, mas não voltou ao normal; então, tirou da cabeça o próprio axé e soprou-o sobre Exu, que ficou dócil e lhe entregou a cabaça, que Oxalá usa para fazer os brancos.


DADOS PESSOAIS SOBRE O ORIXÁ

NomeOsolufon
Dia da semana: Sexta-Feira
Cor: Branco
FolhasEwe Digi, Odundun, Aluman, Baba ewe
Flores: lírios, rosas brancas, palmas, todas as flores miudinhas brancas.
Símbolo: Opasorô
OferendaEbô
SaudaçãoE Babá
Mineral: Prata

Oxaguiãn ( Osogyon )




É o filho de Osàlufan, considerado o Osalá novo, aquele que carrega a espada e o escudo e é muito confundido com Ògún e não perde uma oportunidade de lutar contra OMOLÚ ou SÀNGÓ. Por ser um Orixá Fun Fun (branco), ele é muito guerreiro. É o único que tem autorização de enfeitar seus colares brancos com as pedras azuis , chamadas de SEGUY , e suas roupas brancas podem , às vezes , levar uma franja vermelha . Está ligado ao culto de ÌRÓKÒ e dos espíritos , assim como a fertilidade e o culto dos inhames . É pai de ÒSÓÒSÌ INLÉ, come com ÒGÚN JÀ, ÒSÓÒSÌ INLÉ, AIRÀ, ÈSÙ, OYA e ONÌRA . Tem muito fundamento com OYA , pois é o dono do ATORI, fundamento que lhe foi dado por ela , motivo pelo qual as pessoas de GUIAN devem agradar muito a OYA. Vem pelos caminhos de ONIRA . Tem ligação com ÈSÙ . Seus filhos devem evitar brigas, confusões e mentiras, principalmente, não devem enganar ÒGÚN ou aos seus filhos, pois será castigado sem dó. Não devem comer ôvo frito para não esquentar o Òrìsá, cachaça, sal e dendê . É um Òrìsá muito perigoso.
É também um Orixá enganador, porque sempre mostra as duas faces: a guerra e a paz. Oságuian é considerado um Orixá de alimentos branco (inhame- insu), mas ele também esconde o lado vermelho da espiritualidade. É muito arteiro, muito teimoso, engana até a morte. Traz no seu bojo um grande carrego espiritual e os babalorixás têm que ter bastante cuidado para cultivá-lo, justamente pelas duas faces que tem.
É considerado o Santo das derrotas, das lutas, das batalhas, das guerras, mas também considerado um Orixá que trás muita vitória quando resolve vencer sua demanda.

Qualidades: ORANDIAN, OXANDIAN, OXANDIN, OXANIN e OXAMIN.
Lendas
... comedor-de-inhame-pilado
Oxaguiã não tinha ainda este nome. Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí tornou-se Elejigbô (Rei de Ejigbô). Oxaguiã tinha uma grande paixão por inhame pilado, comida que os iorubás chamam iyan. Elejigbô comia deste iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta; comia no jantar e até mesmo durante a noite, se sentisse vazio seu estômago! Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia ser-lhe servido. Chegou ao ponto de inventar o pilão para que fosse preparado seu prato predileto!
Impressionados pela sua mania, os outros orixás deram-lhe um cognome: Oxaguiã, que significa "Orixá-comedor-de-inhame-pilado", e assim passou a ser chamado. Awoledjê, seu companheiro, era babalaô, um grande advinho, que o aconselhava no que devia ou não fazer. Certa ocasião, Awoledjê aconselhou a Oxaguiã oferecer: dois ratos de tamanho médio; dois peixes, que nadassem majestosamente; duas galinhas, cujo fígado fosse bem grande; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de caramujos e muitos panos brancos. Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse seus conselhos, Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da floresta, tornar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa e povoada de muitos habitantes.Depois disso Awoledjê partiu em viagem a outros lugares. Ejigbô tornou-se uma grande cidade, como previra Awoledjê. Ela era rodeada de muralhas com fossos profundos, as portas fortificadas e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas. Havia um grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias e escravos. Elejigbô vivia com pompa entre suas mulheres e servidores. Músicos cantavam seus louvores. Quando falava-se dele, não se usava seu nome jamais, pois seria falta de respeito. Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria ser empregada. Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou. Ele desconhecia, ainda, o novo esplendor de seu amigo. Chegando diante dos guardas, na entrada do palácio, Awoledjê pediu, familiarmente, notícias do "Comedor-de-inhame-pilado". Chocados pela insolência do forasteiro, os guardas gritaram: "Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi! Que impertinência! Que falta de respeito!" E caíram sobre ele dando-lhe pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia.
Awoledjê, mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia. Durante sete anos a chuva não caiu sobre Ejigbô, as mulheres não tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto. Elejigbô, desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação. "Kabiyesi, toda esta infelicidade é consequência da injusta prisão de um dos meus confrades! É preciso soltá-lo, Kabiyesi! É preciso obter o seu perdão!" Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder no fundo da mata. Elejigbô, apesar de rei tão importante, teve que ir suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos sofridos e o perdoasse. "Muito bem! - respondeu-lhe. Eu permito que a chuva caia de novo, Oxaguiã, mas tem uma condição: Cada ano, por ocasião de sua festa, será necessário que você envie muita gente à floresta, cortar trezentos feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos, deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas ou quebrem-se". Desde então, todos os anos, no fim da sêca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição e na esperança de verem, novamente, a chuva cair. A lembrança deste costume conservou-se através dos tempos e permanece viva, tanbém, na Bahia. Por ocasião das cerimônias em louvor a Oxaguiã, as pessoas batem-se umas nas outras, com leves golpes de vareta... e recebem, em seguida, uma porção de inhame pilado, enquanto Oxaguiã vem dançar com energia, trazendo uma mão de pilão, símbolo das preferências gastronômicas do Orixá "Comedor-de-inhame-pilado." Exê ê! Baba Exê ê!
... Oxaguian encontra Iemanjá e lhe dá uma Filho
Houve um tempo em que os orixás viviam do outro lado do oceano. Mas depois tiveram que vir para o lado de cá, para acompanhar seus filhos que foram trazidos como escravos. Assim vieram todos e assim veio Oxaguian. Oxaguian veio boiando na superfície do mar, navegando no tronco flutuante de uma árvore. A travessia durou muito tempo, mas de um ano. Foi nessa viagem que Oxaguian conheceu Iemanjá, que era dona do próprio mar em que viajava Oxaguian. Logo se conheceram e logo se gostaram. Oxaguian era moço, forte, corajoso; Iemanjá era mulher bonita destemida e sedutora. Iemanjá engravidou de Oxaguian e nove meses depois deu a luz à um menino, que já nasceu valente e forte, querendo guerrear. Mais tarde chamaram o menino de Ogunjá, porque o guerreiro gostava de comer cachorro. Sempre que ia à guerra, a mãe o acompanhava e então todos a chamavam Iemanjá Ogunté.
Oxaguian, Ogunté e Ogunjá formam uma família de guerreiros. E eles são muitos festejados no Brasil.
... Orisa sem cabeça
Um dos mitos diz que Oxaguiã nasceu apenas de Obatalá. Não teve mãe. Nasceu dentro de uma concha de caramujo. E quando nasceu, não tinha cabeça, por isso perambulava pelo mundo, sem sentido.

Um dia encontrou Ori numa estrada e este lhe deu uma cabeça feita de inhame pilado, branca. Apesar de feliz com sua cabeça ela esquentava muito e quando esquentava Oxaguiã criava mais conflitos e sofria muito. Foi quando um dia encontrou a morte (iku), que lhe ofereceu uma cabeça fria. Apesar do medo que sentia, o calor era insuportável, e ele acabou aceitando a cabeça preta que a morte lhe deu. Mas essa cabeça era dolorida e fria demais. Oxaguiã ficou triste, porque a morte com sua frieza estava o tempo todo acompanhando o Orixá. Foi então que Ogum apareceu e deu sua espada para Oxaguiã, que espantou Iku. Ogum também tentou arrancar a cabeça preta de cima da cabeça de inhame, mas tanto apertou que as duas se fundiram e Oxaguiã ficou com a cabeça azul, agora equilibrada e sem problemas.

A partir deste dia ele e Ogum andam juntos transformando o mundo. Oxaguiã depositando o conflito de idéias e valores que mudam o mundo e Ogum fornecendo os meios para a transformação, seja a tecnologia ou a guerra.
Oxaguian - O guerreiro que não conhece a derrota! (Por Gil Bello)

Eis o Senhor do Dia, o Orixà do progresso e da cultura, o Orixà da vida e também da efervescência da vida, da discussao, da guerra e do avanço, da estratégia, da inteligência, do branco, do claro, do positivo e do masculino!!
Orixà moço, Oxalá criança, às vezes adolescente, não passando do jovem adulto Ajagunan!! Brinda o Universo com vida, com energia, com o lúdico e com a guerra e a cultura. Traz o Dia, traz o tempo, traz a evoluçao e o ritmo!

Este controvertido Orixà, apenas superado em controvérsia por Exù, já traz os paradoxos em sua criação. Pois para alguns ele é filho de Oxalà com Yemanjá, mas na grande maioria da cultura este Orixà é o próprio Oxalá, em idades mais tenras! Quando sua missao era outra que apenas a administraçao da Criação, mas sim a de lançá-la, de construí-la e de fazê-la possível! A natureza destes dois aspectos do mesmo Orixà é tao distinta e paradoxalmente semelhante, que ao mesmo tempo que o separa em dois Orixàs distintos, os une no mesmo Orixà ao final da compreensão do momento, missão e natureza deste Orixanlà (Supremo Orixà)!

Este Orixà é nascido do Odù Eji-Ogè, do primeiro alento de vida de Olorùn (Deus), com ele véio o dia primordial e consigo a vida! À ele Olorùn confiou a vida, o dia e a criaçao! Que não pôde realizar só, senão com a ajuda de sua irmã Odudua, nascida logo a seguir pelo Odù Oyekù e o surgimento da sombra emergida do brilho do dia e da vida, trazendo consigo a noite, o feminino, a morte. Ambos terminaram sob as ordens de Olorùn a Criação dos 9 mundos e do Aiyé (o mundo manifesto) e todos os seus habitantes, tendo como dinamizador desta relação o terceiro Orixà mais velho: Exù (esfera), aquele que faz girar o Axé destes dois princípios e que assim cria os caminhos possíveis para a realização do plano divino.

Conta uma lenda que, após espalhada a terra pela galinha de pata com cinco garras, desceram os Orixàs para construírem o Aiyé, vieram antes de todos Ogyan e Ogun. Trabalharam arduamente construindo o mundo, quando a espada de cristal de Ogyan se rompe sob o peso da terra e da pedra. Era o instrumento celestial de Oxalà frágil para lidar com a rude matéria. Sem saber como continuar, veio Ogun que havia presenciado o ocorrido, e ofereceu à Oxalà sua própria espada para q Oxalà continuasse a trabalhar. Enquanto Ogun continuou com as próprias mãos!! Devido a isso Ogun goza de eterno prestígio com Oxanguian, que sempre o abençoa em todo os seus empreendimentos e trabalhos!
Há uma relaçao muito íntima, sem dúvida entre Ogun e Ogyan, tanto que muitos devotos e até mesmo sacerdotes o confundem com uma “qualidade branca” de Ogun... somente o desconhecimento para levar a esta proposiçao, haja visto que o grande Ogun é um ébora, enquanto Ogyan é um Irunmonlè!...

Ogyan divide com Ogun algumas regências, como a guerra, o espírito de luta e o progresso cultural e tecnológico. No entanto são dois Orixàs absolutamente distintos, ainda q companheiros.

Ogyan é em si o Orixà da Vida, do Dia, do Masculino, da Guerra e do Progresso! Enquanto Ogun, primordialmente, era o Orixà da caça. Que deixou para seu irmão mais novo Oxóssi, enquanto foi se ocupar de “ganhar o mundo”. Com a ajuda de Ifà descobriu o FERRO e como manipulá-lo, era este o material que “ganharia o Mundo”, assim o metal seria o elemento mais necessário e mais respeitado neste plano de matéria, sempre rivalizando com o fogo sua hegemonia (donde se tira sua eterna rivalidade e contenda com seu irmao Xangô, o fogo). Quando descobriu o FERRO todos os Orixàs invejaram a descoberta de Ogun. No entanto, nem o próprio Ogun sabia exatamente o valor de tal descoberta. Foi sua parceria com Ogyan que o fez descobrir até em que extremo ele saberia explorar todo o valor desta descoberta. Pois Ogyan o estrategista efervescente, colocou Ogun para confeccionar todos os instrumentos que inventava! E assim Ogun e Oxalá produziram todos os instrumentos de labor, de cultivo, construçao e tb de guerra!! Sendo assim Ogun, o Orixà do Ferro, se tornou tb um dos patronos da construçao, do progresso, do trabalho, da agricultura e da guerra! Ainda se pode ver, em suas danças míticas, Ogun fazendo uso dos instrumentos que confeccionou, ao mesmo tempo que se pode ver, nas danças míticas, Ogyan apresentando cada instrumento criado por seu inventivo intelecto: A espada, a Lança, o Escudo, o pilao!...

Em outras lendas temos Oyà, mesmo no castelo de Xangô, sopra o fogo na forja de Ogun, para que ele possa confeccionar mais rápido a demanda de Ogyan de armas e utensílios para que este possa usar em suas batalhas! Tanto que ventos fortes e furacoes são tidos como prenúncios de guerra, pois seria o poderoso e apressado sopro de Oyà para acelerar uma enorme produção de armas para a guerra de Ogyan!

Assim sendo, Ogyan é o Orixà da Guerra, enquanto Ogun é um de seus patronos e um grande general de batalha! A distinção dos dois giraria na mesma distinção entre o Ares e a Atenas gregos, ambos deuses da guerra, tendo distinção na forma de guerrearem e da natureza do combate. Ogun e Ares (grego) são viscerais, sao furiosos, lutam corpo a corpo, brandindo sua espada com poderosa e inumana força, destroçando tudo o que estiver em seu caminho de guerreiro, sem muita distinção e discernimento, é o calor da batalha, a cegueira da fúria, o gosto pela violência e pela força, junto consigo está a companhia das forças mais obscuras do Universo, assim como Ares vem junto phobbos (medo), entre outras divindades obscuras e até mesmo demoníacas, Ogun vem acompanhado de Ikù (a morte) entre outras divindades terríveis!... Ogun furioso é uma força indomável e absolutamente terrível, contrastando com seu caráter humilde, reto e justo de trabalhador honesto e incansável quando está trabalhando diligentemente. Tanto que é um Orixà de justiça, muito severo, mas reto e verdadeiro. É um grande Orixà!!

Ogyan, assim como a Atenas grega, é um Orixà do gosto pela batalha como depuradora de verdades e otimizadora de progressos!! Possui o gosto pelo debate, pelo combate das idéias e dos conceitos em busca de uma síntese mais perfeita, é o criador da luta entre a tese e a antítese, em busca de uma superior síntese, que novamente será posta à prova, e assim incessantemente até chegar à perfeiçao que este Orixà almeja! É isto, ou NADA!! Assim configurando mais um aspecto de seu caráter dado a extremos! Ogyan gosta da luta, do confronto entre idéias e ideais, entre técnicas, entre modos, caminhos e objetivos para que assim ao final surja algo mais limpo, mais reto, mais claro, mais progredido! Não suporta em si o calor da batalha, nem a confusão em si, a violência, despreza a barbárie (é um Orixà da cultura e do progresso), a desonra, a covardia, o medo, tudo isso ele ignora. Mas se regozija da guerra quando esta consegue trazer a evolução e a depuração necessárias para que a vida cresça e ascenda a outro patamar de cultura e compreensao! A confusão e a guerra, é um instrumento que Ogyan utiliza para que faça saltar a verdade, e assim, uma vez liberta, que a justiça e o progresso se façam!! Um Orixà q busca trazer o valor à tona, utilizando de momentos de extremos, para que o vício ou a virtude se apresentem. É o brilho do dia, que com seu esplendor força os contrastres ao extremos clareando e definindo tudo! É a visão e a verdade! Nenhuma dissimulaçao ou meia-verdade resiste ao vigor de seu brilho que define as naturezas e traz à tona as verdades.

É um Orixà de estratégia, deixando o campo de batalha para seu companheiro Ogun, que se compraze com a violência do campo de batalha. Sendo assim Ogyan é o general e Ogun seu direto imediato! A Ogyan cabe os respeitos e a honra! Tanto que além da saudação digna aos Oxalàs: “Exe ê!” e “Epa Babà”, também exige o “Kabiesyi!” digno dos Reis!!

Ogyan é o inventor e Ogun seu artesão! Ambos espírito e técnica são invencíveis!! Sua parceria é algo tao íntimo que encontramos em diversas lendas a união dos dois! Em outra lenda mostra a natureza extrema de Ogyan e como foi importante a parceria com Ogun para encontrar um ponto de equilíbrio:

Ogyan sentia fortes dores de cabeça, pois seu Orì era demasiado branco! Era um excesso de vida e atividade, pediu auxílio e encontrou Ikù, que lhe disse que poderia resolver este seu problema, desta demasiada claridade, assim Ikù atirou sobre o Orì de inhame branco de Ogyan uma grande quantidade de Ossum, o que tornou a cabeça agora azul-marinha quase negra! Ogyan que sofria de imensas dores de cabeça devido à extrema claridade, agora era assombrado pelas trevas de Ikù (a morte). Uma extrema depressão e fobia tomou conta dele! Perambulando perdido pelas ruas, encontrou Ogun, que com seu Obè (espada) misturou os dois ingredientes (yan- inhame pilado e ossum) tornando a cabeça de Ogyan uma mistura das duas – branca e azul! Assim Ogyan pôde viver e prosperar, tendo sempre ao seu lado o seu fiel companheiro Ogun!

Esta lenda pode-se entrever a natureza extrema deste Orixà, às vezes muito branco, às vezes quase negro!! Ele nasceu de Eji-Ogbè (Eji-Onilé para o Merindilogun) um Odù de extremos! Às vezes os filhos de Ogyan, como é comum para os filhos de Oxalà, devido justamente à extrema brancura, sofrem de rinites, sinusites e outras alergias naturais à uma cabeça muito branca, assim como também a fotofobia, que a lenda relata. Também sabe-se que seu comportamento é de extremos, e muitas vezes após a sua disposição extrema até quase maníaca, eles caem depois em uma grande fadiga ou até mesmo depressão... Vão ao céu e ao inferno praticamente no mesmo dia. Mais uma vez os extremos da lenda. E os fantasmas, as situaçoes obscuras e mal-resolvidas, são os agentes de maior perturbação para seu filhos, que não suportam não discernir e resolver por completo uma situação. Necessitam sempre deixar tudo às claras!! Assim as trevas (as sombras) são o que lhes deprime e atemoriza! Assim, como é comum à todos os Oxalàs, não pode se ver manchado. Quando digo manchado me refiro ao “manchar o alà branco com dendê...”! Ou seja, manchar a reputaçao!!
E outro ponto muito interessante ainda a ser explorado nesta lenda é a questao do trabalho ser o ponto de equilíbrio para o Orì de Ogyan, assim como o afiado discernimento!

Quando aparece Ogun e com sua espada mistura harmoniosamente as duas tendências, na verdade Ogun e a espada são símbolo do trabalho e do progresso, assim como da batalha. Somente o trabalho pode reunir as duas tendências extremistas de Ogyan para um ponto em comum de progresso e saúde, que é o trabalho. A necessidade de Ikù participar da formaça da cabeça de Ogyan é pq os filhos de Ogyan sem temores, angústias e questoes a elucidar nao se movem, e assim ficam se ressentindo de tanto talento armazenado e não explorado! É a uniao da motivação, do talento, com a necessidade e a angústia o que faz eles se moverem!! Mas apenas a espada, ou seja, o discernimento afiado, que os filhos de Ogyan possuem por excelência, é que fará com que consigam aplicar tudo isto de modo equilibrado, saudável e proveitoso!! E isto será aplicado no trabalho, ou na batalha, fazendo emergir o valor, o novo, a virtude ou o vício, tudo para limpar o caminho e trazer o progresso! E como meta última, a perfeiçao! Não é necessário dizer que os filhos de Ogyan são perfeccionistas natos, e não perdoam a sua obra até atingirem a perfeiçao... nunca estará bom para eles, até que lhes pareça perfeito... Toda a obra para eles será sempre apenas um ensaio, a próxima será melhor, e talvez, a definitiva... Para um Orixà do progresso nunca existe a obra definitiva... e assim caminharão até à perfeição!

São, como todos os Oxalàs, altivos ao mesmo tempo que humildes. Existem muitas “qualidades” ou muitos Orixàs sob esta classificação... não pretendo aqui discorrer sobre todas que seriam um grande número... com todas as suas multifaces e idiossincrasias. Basta tentar classificar as maiores tendências.

Existe uma diferença em muitas casas que definem os Ogyans que portam pilão, e os Ogyans que portam espada. Assim os que portam o pilão seriam doces, progressistas e sociàveis, equilibrados. Enquanto os que portam espada seriam os desafiadores, os “encrenqueiros”, de humor instável e severos progressistas! No entanto ainda sabe-se que em outras casas, todos portam tanto uma quanto a outra, sendo apenas momentos do Orixà... e devendo ser acompanhado para buscar sempre estar equilibrando o Orixà.
Alguns Ogyans no entanto são mais infantis que outros, outros são mais guerreiros e dados à batalhas, e assim vai, dependendo do aspecto do Ogyan correspondente. Em comum todos possuem uma alegria inesgotável, um vigor invejável, uma mente brilhante e afiada, um discurso ainda mais reluzente e afiado! Uma mente criativa e por demais inventiva! Uma coragem de propósitos inigualável e uma rebeldia nata. A inconformidade é seu traço mais comum, para todos o bom pode ainda ficar melhor, e lutarão por isso!! Quado saciarem esta fome de perfeiçao, encontrarão a maturidade e a paz que no fundo é o que mais desejam...

Seu nome Oxanguian vem de uma lenda, em que o senhor de Ejigbô, este mesmo Orixà, gostava muito de comer inhame pilado, de tal modo que inventou o pilao, para que ficasse mais fácil de produzir sua comida predileta. Assim o chamaram, seus amigos de Oxanguian, que significa, Orixà comedor de inhame pilado!

Um dia Awoledjé, seu babalawó resolve partir em peregrinaçao após lhe dar sábios conselhos sobre como dirigir sua cidade recém conquistada. E realmente Ejigbó tornou-se a grande cidade que Awoledjé previra: Com grandes muralhas, grandes construções, luxo, exércitos, etc, etc, todo o luxo que um grande reino exigia. Awoledjé quando retornou mal reconheceu a cidade. E chegando aos porteiros da cidade pediu para ver o “comedor de inhames”, bastou para que os soldados ficassem absolutamente indignados com o tratamento desrespeitoso do forasteiro em relaçao ao seu querido Rei. E então, após surrá-lo bastante, o prenderam na masmorra mais fétida que havia. Muito triste com o tratamento recebido pela cidade que havia ajudado a fundar, Awoledjé invocou um encanto que trouxe a esterilidade e a seca para Ejigbó. Passado uns anos reinar estava impraticável... entao ogyan pediu para os adivinhos descobrirem o q se passava com seu reino. E Ifà lhes diz que um amigo foi preso injustamente em seu reino! Imediatamente Elejigbó pede para repassarem todos os veredictos do reino e é quando reencontra seu amigo Awoledjé, transfigurado pelos maus tratos recebidos. Oxanguian estava desconsolado... como ele podia ter feito isto ao amigo?? Imediatamente manda lavarem Awoledjé, o alimentarem com as melhores comidas, vesti-lo de branco (traje de honra) e após todo o tratamento convence a Awoledjé que retire o encantamento que secava o seu povo. Awoledjé aceita, mas impôs uma única condiçao: Todos os anos, no fim da seca, deverão todos os habitantes de Ejigbó dividirem-se em duas tribos que deveram golpear-se com varetas de madeira até estas se quebrarem! E é assim que até os dias atuais Ejigbó nesta época se dividem os bairros de Ixalê Oxolô e Okê Makpo para golpearem-se até quebrarem-se todas as varetas! Esperando que a chuva caia e a fertilidade retorne.

Esta lenda demonstra mais uma característica, além de Ogyan portar as armas acima referidas, também porta o Irukeré (rabo de cavalo branco) símbolo de sua realeza! E também a vareta de amoreira... demonstrando que possui também uma forte ligaçao e regència sobre os mortos... Ogyan, o Orixà da vida por excelência, também é o Orixà da vida após a vida! Sendo assim rege os mortos e sua lembrança viva...

Na natureza encontramos Ogyan no camaleão, nos primeiros raios do Dia, assim como no dia todo. Também encontramos seu axé em tudo o que é branco e puro, assim como também nas águas, sobretudo nos gêisers, fontes de águas termais e quentes! Pois ele é a água e o fogo do início dos tempos, a água vulcânica que presenciou a criação do mundo e criou a atmosfera, o ar, que gerou a vida neste planeta!!

Ogyan é tanto o Orixà da vida que é muito comum ser um Orixà favorito dos sacerdotes anciãos, pois ele é sempre o prenúncio de mais vida! Onde entra um omorixá de Ogyan, a vida se renova, o tempo de vida se prolonga, as atividades retomam força, os objetivos se redefinem ou se discernem melhor os ideais. Há um reavivamento em tudo!! E também o famoso lorogùm... aquele que limpa e define as coisas... o brilho afiado de Ogyan que define tudo, que exalta os ânimos, os vícios e as virtudes, que traz à tona à verdade, e os contrastes, colocando tudo em seu devido lugar. Nada mais se paira à sombra, o dia chegou!!
Tanto que em algumas casas, antes de se fazer um Ogyan busca-se acalmar sua cabeça de Lorogum. Existe um preceito muito simples e eficiente para isso.

Seu elemento: Ar e Água
Seu temperamento: Quente
Sua regência: Vida, criatividade, estratégia, a guerra, as invenções, a inteligência, o debate, o brilho, o dia!
Sua cor: o Branco, matizado de azul, cor que leva em honra à Ogun seu companheiro.
Seus instrumentos: a mão-de-pilao, a espada, a lança, o escudo, o irukeré (rabo de cavalo), o iruexan (vareta de amoreira).
Comida preferida: inhame pilado.
Animais consagrados: pombos brancos, cavalos brancos, camaleão, igbin.

Saudemos entao o grande senhor da vida!
Salve o grande guerreiro branco que desconhece à derrota!
Saudemos ao amanhecer do dia, quando surgirem os primeiros raios de vida e de luz!!

“Exeu ê! Epa Babà!!

Axé!! 

Orisás

Começarei aqui hoje um trabalho de divulgação de itãns ( histórias ) sobre orisás , espero que tal trabalho agradem meus queridos leitores.

Um babalaô me contou:

"Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tornaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração para
render-lhes homenagem".



Na África cada Orixá estava ligado originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais. Sàngó em Oyó, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em Ekiti e Ondô, Òssun em Ijexá e Ijebu, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilexá, Otin em Inixá, Osàálà-Obàtálá em Ifé, subdivididos em Osàlúfon em Ifan e Òságiyan em Ejigbô.

REFERÊNCIA: Casa dos Orixas 01
Podemos afirmar que a cultura do candomblé no brasil, nasceu nas senzalas, com a junção de povos(africanos) com seus costumes e orixás. Provenientes de milhões de negros de diversos países e cidades africanas, trazidos (arrancados) de seus lares, de suas famílias e de seus pais e filhos; para trabalharem nas plantações de cana e café das cidades baianas, cariocas, pernambucanas, cearenses e paulistanas. E, posteriormente, nos exércitos e fazendas de fronteiras do rio grande do sul.
Graças aos conquistadores portugueses, franceses, ingleses e de padres e bispos da época; (que legaram aos brancos poder de matar os negros e índios, afirmando que os negros eram sub-humanos, e portanto, não haveria pecado.) Milhões de negros foram massacrados nas colônias e em navios negreiros.
Porém, ironicamente podemos afirmar que: se não fosse essa catástrofe ou atrocidade animalesca; provocadas por animais considerados humanos, contra humanos considerados animais; hoje o brasil não teria o prazer de conhecer esta maravilhosa cultura, sem mencionar nos orixás e seus axés.
Ao contrário que muitos acreditam, na áfrica não existia somente tribos de índios semi-culturados. Lá existia e ainda existem, reinos com suas hierarquias (reis, rainhas, sacerdotes, príncipes, generais, exércitos, etc.); assim como, havia uma cultura avançada relacionada a religião e comércio em todo continente, inclusive possuindo muitas heranças culturais egípcias, gregas e persas.
No continente africano, muitos reinos com suas ricas e milenares cidades, foram extintos graças às influências e dominações cristãs e mulçumanas. Aniquilando o resto da cultura existente nos países enfraquecidos pela escravidão, tornando-os órfãos de orixás.
É fácil de se verificar que em muitas regiões africanas o povo carece de energia (axé).

Assim:
Sem oxum (água); sem ogum (trabalho/ferramentas); sem xangô (justiça); sem oxalá (paz); sem iemanjá (estudo/psicologia); sem nanã (origem,família); sem odé/oxossi (comida/caça); sem ossain (remédio); etc.

É bom saber, que ainda existe cultura na áfrica, mesmo que seja em poucas regiões.lá ainda existem reinos, príncipes, rios e orixás... Onde possamos levar e trazer fundamentos, realizando a tão sonhada e difundida união entre continentes; pregada, catalogada e amplamente difundida por autores como: Pierre verger e tantos outros.
Quanto a escravidão...
Em várias senzalas brasileiras, foram aglomerados negros de diversas raízes, que uniram-se culturalmente; trocando, dividindo fundamentos de cultuação e prática religiosa.
Também por esses motivos, os negros escravos eram muito temidos. Eles arquitetavam facilmente, planos de fuga, de defesa e até mesmo de guerrilhas.
"assim nascera: a capoeira, o zumbi dos palmares, o candomblé, etc."

Como ocorreu ...
Sabendo-se que: era costume em muitas cortes e tribos africanas, escravizarem os presos de guerra (principalmente os guerreiros), ao mesmo tempo que não haviam exércitos europeus capazes de vencer uma guerra ou confronto direto com povos africanos (os mesmos possuíam também táticas avançadas de guerra). Os portugueses uniam-se a reis africanos, oferecendo armas e títulos da nobreza européia em troca dos prisioneiros de guerra. Desencadeando um grande conflito inter-continental, apenas levantando calúnias e difamações entre os povos vizinhos.

Após anos de guerras e conflitos, muitos reinos enfraqueceram seus sistemas de defesa, e muitos soldados já estavam trabalhando nas colônias como escravos. Os portugueses deram o golpe final invadindo e conquistando os reinos dos próprios aliados enfraquecidos. Arrastando para as senzalas também as mulheres, crianças e nobres das cortes.
Assim prosseguiu a barbárie tarefa européia de comércio humano. Até o final da segunda guerra mundial. Onde ainda existia nas colônias africanas do império britânico, trabalho escravo e apartheid, em pleno século "XX".

Na própria terra dos orixás a pobreza e as doenças, assistidas e divulgadas em meios de comunicação, como ex: em angola (ex-colônia portuguesa); tiveram como principal foco inicialisador, a extinção da cultura dos povos por seus opressores. Onde muitos habitantes, não reconhecem mais seus antepassados. Perdendo o elo com seus orixás.
Porém, assim como ocorreu na escravidão no Brasil, sabemos que na África, existem bravos sobreviventes, que lutam para que seus paises resgatem sua cultura e prestígio.

E torçamos para que a cultura dos orixás permaneçam vivas e fortes em muitos corações e povos, sobrevivendo inclusive de ataques das religiões que se dizem únicos donos da "palavra de deus"; Induzindo inclusive a separação de negros e brancos como nos EUA, por exemplo: onde o negro abdicou totalmente de sua cultura ancestral, absorvendo a religião e os costumes(cultura) dos brancos, onde pregam em suas liturgias a paz e o amor, assim como a igualdade entre os homens. Mas mesmo assim, foram humilhados e separados dos demais brancos. Onde reza um negro, não reza um branco, e cada qual possui sua igreja de mesmo deus, (para brancos e negros), perdendo assim sua identidade , seu orgulho, sua cultura.

E aqui no brasil, quando não mais houver crianças chorando com fome, e pessoas somente criticando os atos das pessoas de boa vontade ao invés de contribuir ou ajudar. Certamente este país mais fértil, mais cultural e com o povo mais nobre e humano do mundo. Terá certamente lugar de destaque, respeito e reconhecimento em todo o planeta.
Hoje conhecemos a religião africana no continente americano como:
-candomblé, batuque, xangô, santeria, vodoo e outras)
Em cada grupo, juntaram-se culturas, associadas ao maior ou menor número de pessoas originárias da mesma raiz (nagô, ketu, angola, oyo, jêje, ijexá, etc) (ver mapa).

Em muitos reinos/cidades, cultuava-se diferentes orixás em cada raiz(família). Como em muitos locais, eles conheciam orixás por diferentes nomes. Ex: obaluaie e omulu em ketu(nagô); xapanan e sapakta em jêje. (que são os mesmos orixás). E que em muitas nações foram associados a outros orixás, tornando-se qualidades.
Seus fundadores ou reis, eram cultuados especificamente em suas próprias cidades conquistadas ou fundadas. Ex: xangô em oyó, logun-edé em efon, oxossi em ketu, etc. Sendo até hoje reverenciados, servindo de pilar na identificação da origem de cada casa de candomblé existente no brasil.

Também em várias regiões da áfrica, existem ainda sacerdotes e obás(reis) supremos de determinados orixás, sendo os mesmos detentores únicos de todos os segredos e fundamentos a um ou dois orixás específicos.
Em muitas nações, os mesmos orixás, ou possuem cultos únicos e diretos, ou tornaram-se qualidades de orixás primários. Ex: no oyó (batuque) otin é um orixá feminino que se cultua junto a odé. Em outras nações de candomblé, a mesma é uma qualidade de oxossi/odé. Assim como ibeji, etc.
Infelizmente, muitos outros orixás não são mais cultuados, pois perderam-se os fundamentos dos mesmos, porém ainda existem na natureza, e seus axés (energias) ainda reinam no universo.

Nota: devido as diferenças litúrgicas e culturais existentes entre nações africanas de raízes, jêje, angola, ketu etc. Sempre ocorreu uma certa desunião entre as mesmas.
Umas das principais missões nesta obra, é a de promover a união da religião africana no Brasil.
Não nos referimos a uma união litúrgica (modo de cultuação e prática), pois sabemos que é devido aos costumes de nossos antepassados, que desde a antigüidade, cultuavam orixás diferentes em cada nação religiosa. Mas sim, numa união cultural.
Portanto, não devemos nos atenuar em diferentes nomes de qualidades designadas a orixás, exús e até mesmo certas diferenças ligadas a maneiras de tocar um candomblé/batuque/xangô, etc.
Devemos sim buscar maneiras de interagir nossos conhecimentos e cultura em prol de uma união mais sólida, respeitável e influente.

REFERÊNCIA: Casa dos Orixas 02
Origem...

São muito contraditórias as publicações referentes a verdadeira origem da religião dos orixás na áfrica.
Alguns historiadores, associam Oduduá o "conquistador". Com Nimrod; também citam a semelhança de nosso método de consulta a Ifá (oráculo), com a Kaballah judaica; Dan a serpente telúrica representando a eternidade, com a Dan serpente referente a umas das doze tribos de Israel e outras. Ou seja, muitos historiadores afirmam que os yorubás possuem descendência judaica.
Outros defendem somente a tese que: os orixás são antepassados divinizados de antigos reis africanos, assim como generais e sacerdotes; que tiveram suas façanhas eternizadas nas histórias dos antigos. Lendas repassadas de geração em geração aos descendentes dos reinos e tribos africanas.
Em suas pesquisas, constataram a presença de influencias egípcias e fenícias na cultura yorubana.
Verger mostrou em suas obras, que nossa origem é remota a muitas outras conhecidas, como gregas e romanas. Pois temos orixás em nosso culto que são anteriores a conquista e conhecimento do metal, como nanã.


Verger também tratou de mostrar a semelhança existente entre nossos deuses e deuses gregos, como por exemplo:
Zeus: deus grego do trovão e dos raios, tem como símbolo um machado duplo.
Xangô: deus yorubá dos raios e trovões, tem como símbolo um oxé (machado de duas lâminas).
Certamente em meio a tanto estudos, podemos afirmar que em um vasto continente como o africano, é certo que todas as teses são corretas.
E que aos poucos, todas estas origens regionais, fundiram-se formando uma cultura sólida e única, que conhecemos hoje como a cultura dos orixás; verificadas em todos os povos (yorubanos, angolanos, jêjes, etc.), com seu xangô, oduduá, obatalá e demais reis, guerreiros e sacerdotes. Eternizados e unidos com as energias da natureza (florestas, animais, rios, oceanos, etc.) Onde em nossos ylés são louvados e suas histórias narradas a nossos iniciados, afim de servir de exemplo de conduta e fé, associada a natureza e bem estar da sociedade.

Tal como em livros milenares, editados como por exemplo: a arte da guerra do general chinês "sun tzu" vendido no mundo todo. Narrando suas condutas e táticas de batalhas, transformadas em auto-ajuda, associada a negócios e condutas para os dias atuais.
Nós também ensinamos a nossos seguidores, as histórias de nossos reis (Xangô) de nossos generais milenares (Ogun), etc. Com suas táticas, seus erros, suas virtudes e glórias; afim que possam ter como princípio de vida, o equilíbrio associado a normas e condutas culturais de nossos antepassados.
E com simbologias e danças em louvor a nossos antigos mestres saudamos nossos orixás e antepassados, que em energia nos lega seu axé.

Sincretismo...

Nos referimos a sincretismo, quando são associadas duas religiões em um único culto, com suas simbologias e doutrinas mescladas.
No caso do candomblé/batuque, foram associados imagens de santos católicos a nossos orixás. O que existe uma explicação inconteste e única para tal associação.
O sincretismo religioso, nasceu também nas senzalas. Hoje há uma grande diferença de sincretismo de orixás nas nações de candomblé.
Na bahia, ogum é sincretizado por são sebastião, no rio grande do sul por são jorge, e assim por diante.

Na época quando ouve a troca de cultura entre os habitantes das senzalas, os negros continuaram a cultuar seus orixás, mesmo após os brancos com sua santa inquisição católica, obrigarem os negros a converterem-se ao cristianismo e trocarem seus nomes originais, por nomes portugueses.
Quando os negros dançavam para seus orixás, eles colocavam sobre o "assentamento", estátuas de santos católicos para enganar os inquisidores.
Como eles cantavam aos seus orixás em seu dialeto primitivo, os padres e fazendeiros, tinham a ilusão que os escravos louvavam os santos católicos na linguagem yorubá. Mas na verdade, estavam usando as imagens destes santos para esconder em seu interior, suas obrigações e verdadeiras simbologias dos orixás.
Certamente, os negros assimilaram muito bem os ensinamentos dos senhores brancos, utilizavam as imagens católicas comparando-as aos orixás por aparência ou feitos. Como exemplo: oxalá com jesus, oxum e yemanjá com as aparições da virgem maria, oyá/yansan com santa bárbara e assim por diante.

Mas cabe lembrar: os negros só usavam as imagens católicas no propósito de esconder suas obrigações, em hipótese alguma, os negros cultuavam os santos católicos como orixás.

Referência: Candomblé Ilê Axé Opô Afonja

Algumas considerações...

A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos.

Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protetor.

No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós.

A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito.

Ele dizia:
- meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim. Sincretismo. Forma de resistência que criou grande onus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é implacável. A imobilidade não se mantém. O filho do africano já dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore.

Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode - Mãe Stella de Oxossi , em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar isso". Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra do último grilhão. A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista: acima de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu recebesse, eu explodia".

Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente: resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça-fugitivos" estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web', em certo sentido. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o joio do trigo, porisso estamos aqui. Dizendo o que somos, damos condição para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita.

As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano.

- Oni Kòwé -
Salvador, outubro de 1996

Referência: ACAIBA
Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.
"O CANDOMBLÉ: SUAS NAÇÕES E VARIANTES"
• NAÇÃO KETÚ
• NAÇÃO ANGOLA
• NAÇÃO JEJÊ
• HISTÓRICO

O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro.
A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados.

Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas.
Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.

O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil.

Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda.

Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas desilusões.

O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana. inicio

Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco.

Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de recuperação de raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura reaprender o iorubá como língua original e tenta reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.

Fonte, Internet

A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.

Fonte, Internet

A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.

A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.

REFERÊNCIA: Rubem César Fernandes
Candomblé
por Rubem César Fernandes
Há sacerdotes africanos que vêm ao Brasil aprender sobre a sua própria religião. Este é um fenômeno extraordinário de sobrevivência cultural e de desenvolvimento de tradições massacradas pelo tráfico de escravos. Iorubas, daomeanos, os fanti-ashanti, os bantos, contribuíram de diversas maneiras para a religiosidade afro-brasileira, introduzindo variantes rituais. A corrente Jejê-Nagô, no entanto, constituiu-se como a principal referência estruturante a partir do século XIX. Fenômeno semelhante ocorreu no Caribe, com o Voudou no Haiti ou a Santeria em Cuba. Religiosos destas três regiões - litoral do Brasil, Caribe, África Oriental - constituem um circuito de práticas sagradas comuns que ainda hão de desenvolver as suas relações.

A vitalidade das tradições afro no Brasil evidencia-se por um modo particular de expansão. Não se restringiu à afirmação dos limites de uma identidade étnica. A simbologia negra e a memória africana são fortemente reiteradas, com certeza, e oferecem uma fonte perene de elementos animadores dos movimentos negros. O negro não é, para os fiéis, no entanto, a cor identificadora da essência de sua religião. Oxum é do amarelo ouro, Oxossi do verde das matas, Yemanjá do azul-marinho, Xangô do vermelho e branco, e assim por diante, pelas cores do arco-íris. A ênfase ritual não é posta na história da destribalização, do tráfico, da tremenda travessia oceânica ou da violência desagregadora nos trabalhos escravos.

Os ritos e mitos do Candomblé pouco falam de história. Valorizada, sim, é a presença dos orixás nos espaços sagrados, assim como sua influência nas cabeças e no comportamento das pessoas. O Candomblé dramatiza relações de uma dimensão cósmica, que se passam no tempo mítico, compreensivo da vida como a conhecemos. Esta abertura mítica, combinada à dinâmica sincrética do catolicismo no Brasil, levou a que as verdades do Candomblé fossem percebidas como tais e eventualmente apreciadas por um vasto contingente de brasileiros, fossem eles negros, mulatos ou brancos. O Candomblé sempre foi condenado pela Igreja, mas o ministério clerical nunca teve grande penetração entre a massa dos fiéis. Foi perseguido pelo Estado e com violência ainda no período getulista, mas os policiais que invadiam os terreiros eram, eles próprios, com freqüência, temerosos freqüentadores dos mesmos. A perseguição diminuiu a partir dos anos 50, dando mais liberdade para a multiplicação das casas de culto e para a sua frequentação. Movimentos culturais passaram a enobrecê-lo na literatura, na música, no cinema ou na TV, emprestando-lhe um brilho que é atraente até mesmo para as elites.

Sua influência sobre a Umbanda, movimento novo e expansionista, levou os orixás a serem cultuados em círculos mais amplos, inclusive de classe média. Um levantamento dos anos 80 registrou cerca de 16 mil centros de Umbanda no Rio Grande do Sul, por exemplo, a maioria deles liderada por descendentes dos alemães, italianos, poloneses e de outros imigrantes europeus. Há devotos dos orixás entre japoneses e judeus no Brasil. Casas de Candomblé e Centros de Umbanda proliferam na Argentina por influência brasileira.

A sofisticação estética dos ritos do Candomblé contribui, sem dúvida, para a atração que exerce nas pessoas em geral e, particularmente, nos meios artísticos. As cerimônias abertas de cada casa de culto têm a característica de uma "festa". As divindades que nelas se manifestam não vêm para pregar ou distribuir conselhos. Vêm expressar a sua energia vital, dançando. Fazem isto de modo solene, seguindo uma estrita lógica ritual, comandada pelo som dos atabaques e dos cantos. Vestem-se com pompa e produzem um gestual codificado, identificador de cada orixá. As festas terminam, invariavelmente, com um jantar aberto ao público, feito de comidas sagradas, relativas ao evento da noite.

As Casas de Candomblé desenvolvem uma intensa e constante atividade de manutenção das relações entre o sagrado e o profano. O espaço é cuidadosamente subdividido, com o barracão para as festas públicas, a camarinha, para os iniciados, o peji, de acesso restrito e onde ficam os objetos sagrados, as casas de cada orixá, de frequentação especificada, as plantas sagradas, a sala de recepção para os fiéis etc., compondo uma arquitetura tão complexa quanto a hierarquia do culto.

As obrigações para cada orixá, as iniciações, o atendimento individualizado do público, as adivinhações, a leitura dos búzios, uma variedade de ritos particulares, a difícil harmonização dos distintos poderes que constituem uma Casa de Candomblé, o relacionamento com a sociedade exterior, tudo isto deve ser cuidado no detalhe, segundo uma estética ritual meticulosa. A autoridade de uma Ialorixá (mãe de santo) ou de um Babalorixá (pai de santo) está vinculada, justamente, ao seu domínio sobre todas estas matérias. O conhecimento sobre como fazer, as justificativas para cada gesto nas tradições, compõem o vasto acervo simbólico personalizado na figura da mãe ou do pai de santo.

Babalorixá Pai Cido de Osum Eyn
O candomblé é uma religião que teve origem na cidade de Ifé, na África, (ver mapa) e foi trazida para o Brasil pelos negros iorubás. Seus deuses são os Orixás, dos quais somente 16 são cultuados no nosso país. Essú, Ògún, Osossi, Osanyin, Obalúayé, Òsùmàré, Nàná Buruku, Sàngó, Oya, Obá, Ewa, Osun, Yemanjá, LogunEde, Oságuian e Osàlufan.
O Pai ou a Mãe de Santo é a autoridade máxima dentro do candomblé. Eles são escolhidos pelos próprios Orixás para que os cultuem na terra. Os Orixás os induzem a isto, fazem com que as pessoas por eles escolhidas sejam naturalmente levadas à religião, até que assumem o cargo para o qual estão destinadas. Uma pessoa não pode optar se quer ou não ser um Pai ou Mãe de Santo se não acontecer durante sua vida fatos que a levem a isto.
São pessoas que de alguma forma são iluminadas pelos Orixás para que cumpram seu destino.
Os Pais de Santo, normalmente, são donos de uma roça, ou seja, um lugar onde estão plantados todos os axés e no qual os Orixás são cultuados. Dentro da roça existe o barracão (assim denominado por causa dos negros que antigamente moravam em barracões), que é o lugar em que são feitos os grandes assentamentos (oferendas) para os deuses.

Hierarquicamente, existe, ainda, na roça um pai pequeno ou mãe pequena, que é o braço direito do Pai de Santo e é normalmente um filho ou filha da casa. Depois vem as Ekedes, são mulheres também escolhidas pelos Orixás para cuidar deles e ajudá-los. Embora sejam consideradas autoridades dentro da roça, não podem ser Mães de Santo, visto que sua função já foi determinada e não há como mudar.

A seguir vem os Ogans, que tocam os atabaques e ajudam o Pai de Santo nos fundamentos da casa; a Ya Bace, que toma conta da cozinha, isto é, de todas as comidas dos Santos; a Ya Efun, dona do efun (pemba), e que está encarregada de pintar os Yaôs (iniciantes que estão recolhidos para fazer o Orixá); e finalmente os filhos de Santos, que são as pessoas que "rasparam o Santo", ou melhor, rasoaram a cabeça para um Santo a pedido deste.
Às vezes o Santo, ou Orixá, incorpora em determinadas pessoas, mas não há necessidade que haja esta "incorporação"para que uma pessoa raspe o Santo. Se a pessoa deve ou não raspar o Santo só pode se sabido com certeza através do jogo de búzios do Pai ou Mãe de Santo que, diga-se de passagem, são os únicos que podem jogar búzios.
O candomblé é uma religião com uma vasta cultura e rica em preceitos. São pouquíssimas as pessoas que realmente a conhecem a fundo. É necessário muita dedicação e anos de estudo para se chegar a um conhecimento profundo da seita. Seus preceitos são todos fundamentos e qualquer um pode se dedicar ao seu estudo e desfrutar seus benefícios. Existe muita energia positiva no candomblé, e o seu culto pode trazer paz e felicidade.
Origem do Candomblé: Ifé

A antiga cidade de Ifé, ao sudoeste da atual Nigéria, deslumbrava desde o começo do século como a capital religiosa e artística do território que cobria uma parte central da antiga República do Daomé. É a fonte mística do poder e da legitimidade, o berço da consagração espiritual, e para onde voltaram os restos mortais e as insígnias de todos os reis iorubás. A civilização de Ifé, ainda hoje, é pouco conhecida e apresenta uma criação artística variada do realismo, enquanto que a maioria da arte africana é abstrata. O material empregado na arte de Ifé espanta e abisma qualquer historiador, incluindo os próprios africanistas. Ao lado das esculturas em pedra e terracota (argila modelada e cozida ao fogo) tradicionais na África, estão as esculturas em bronze e artefatos em pérola. Uma das artes mais conhecidas é a de Lajuwa, que segundo o povo de Ifé permaceu no palácio real, mostrando os vestígios em terracota, antes de ter sido redescoberta.

Lajuwa foi o camareiro de Oni (soberano do reino de Ifé ou Aquele que possui). A atribuição dessa terracota a Lajuwa não é estabelecida de maneira segura, entretanto a escultura foi preservada e conservou uma superfície lisa, ainda que o nariz tenha sido quebrado.

A maior parte das descobertas das obras foi feita nos BOSQUETES SAGRADOS: vastas extensões de terras situadas no coração da savana. Cada uma destas descobertas é consagrada a esta ou aquela divindade, entre elas:

- BOSQUETE SAGRADO DE OLOKUM:
cobre uma superfície de 250 ha, ao norte da saída da cidade de Ifé. É dedicado a OLOKUM, divindade do mar e da riqueza.

- BOSQUETE SAGRADO D'IWINRIN:
encerra numeroso tesouro artístico, testemunhado, na maior parte, uma arte extremamente realista e refianada. Uma delas é de um personagem com 1,60 m de altura, sentado num banco redondo, esculpido em quartzo e provido com um braço curvado para dentro em forma de anél. Apóia o braço em um tamborete retangular com quatro pés, sendo adeado por dois outros de igual tamanho natural, um dos quais tem na mão a extremida de de uma vestimenta cortada.
Supõe-se que o artista tenha manuseado a argila crua em separado. Depois de concluído foi seca ao sol e cozida numa imensa fogueira ao ar livre, obtendo uma terracota de cor uniforme.

- BOSQUETE SAGRADO OSON-GONGON: os arqueólogos descobriram uma variedade de esculturas de argila cozida e a maior parte de uma mesa micácea. Entre elas está a cabeça da própria OSON-GONGON, porém menos refinada do que a de LAJUWA. Ao lado desta escultura, há numero sas outras representando persona-gens com deformações físicas, uma delas com elefantíase nos testículos (doença ligada intimamente ao espírito dos negros e à impotência sexual), objeto de tratamento com rituais especiais. Nos funerais, a liturgia era feita por um sacerdote da antiga sociedade ORO, tida aos "ocidentalizados" como formas mostruosas. O principal achado é o vaso do ritual destes funerais, decorado em relevo. Revela certos ritos e insígnias religiosas de Ifé. Vêem-se com os efeitos: Edans (bastões de bronze, utilizados pelos membros da Sociedade OGBONIS na cerimônia secreta), um bastão de ritual com uma espécie de espiral saliente em ambos os lados, um tambor, um objeto com dois crânios na base, um machado e dois presonagens sem cabeças.

BOSQUETE SAGRADO DE ORE: possue abundantes esculturas de homens e animais. O grupo principal é constituído de duas estátuas humanas, a maior é cha-manda IDENA, o porteiro.
IDENA usa um colar de pérolas (contas), diferente dos demais usados em estátuas de terracota. Na cintura ostenta um laço e tem as mãos entrelaçadas. A cabeleira não é esculpida, mas representada por pregos de ferro fincados, como acontece na srte de Ifé.

BOSQUETE SAGRADO DE ORODI: encontra-se nele uma estátua de pedra com a cabeça e o corpo enfeitados com pregos, similares aos que ornam Idena. Tem na mão direita uma espada e na esquerda um abano. Está situada em Enshure, província de Ado Ekiti.
Criação do reino de Ifé

O grande Deus Olodumaré enviou Oxalufã (Orixá) para que criasse o mundo. A ele foi confiado um saco de areia, uma galinha com 5 dedos e um camaleão. A areia deveria ser jogada no oceano e a galinha posta em cima para que ciscasse e fizesse aparecer a terra. Por último, colo-caria o camaleão para saber se es-tava firme.Oxalufã foi avisado para fazer uma oferenda ao Orixá Exu antes de sair para cumprir sua missão. Por ser um Orixá funfun, Oxalufã se achava acima de todos e, sendo assim, negligenciou a oferenda. Exu des-contente, resolveu vingar-se de Oxalufã, fazendo-o sentir muita sede. Não tendo outra alternativa, Oxalufã furou com o seu apaasoro o tronco de uma palmeira. Um lí-quido refrescante dela escorreu, era o vinho de palma. Ele saciou sua sede, embriagou-se e acabou dormindo.

OLODUMARÉ, vendo que Oxalufã não cumpriu sua tarefa, enviou Odùdùwa para verificar o ocorrido. Ao retornar e avisar que Oxalufã estava embriagado, Odùdùwa recebeu o direito de vir e criar o mundo.
Após Odùdùwa cumprir sua tarefa, os outros deuses vêm se reunir a ele, descendo dos céus graças a uma corrente que ainda se podia ver, segundo a tradição, no BOSQUE DE OLOSE, até há alguns anos. Apesar do erro cometido, uma nova chance foi dada a Oxalufã: a honra de criar os homens. Entretanto, incorrigível, embriagou-se novamente e começou a fabricar anões, corcundas, albinos e toda espécie de monstros.
Odùdùwa interveio novamente, anulou os monstros gerados por Oxalufã e criou os homens bonitos, sãos e vigorosos, que foram insufla dos com a vida por OLODUMARÉ. Esta situação provocou uma guerra entre Odùdùwa e Oxalufã. O último foi derrotado e então ODÙDÙWA tornou-se o primeiro ONI (rei) de Ifé. Distribuiu seus filhos e os enviou para
criar novos e vários reinos fora de Ife Mais tarde os Orixás retornaram a Orum, deixando na terra seus conhecimentos e como deveriam ser cultuados seus toques, comidas e costumes, para que fossem cultuados pelos seus descendentes. Então o ser humano começou a fazer pedidos aos Orixás e para que cada pedido fosse atendido eles ofereciam comida em troca. Ao contrário do que se pensa, nem todos os pedidos são atendidos, embora os Orixás sempre aceitem as oferendas. Quando um Orixá recebe um pedido, ele o leva a Olodumaré e este decide se o pedido vai ou não
ser atendido. Este julgamento vai ser baseado no merecimento da pessoa que fez o pedido.
O povo continua fazendo oferen das aos Orixás até hoje, pois os Orixás procuram sempre fazer o melhor para as pessoas. O círculo dos deuses é constituído segundo o número 16, número sagrado no candomblé. Ele se en-
contra em toda parte: no número de búzios, no número de chamas da lâmpada dos sacrifícios, na numeração dos membros físicoa e psíquicos, quer dizer, das forças e das partes que possui o homem na organização hierárquica.